segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Estação


Deixa-me te dizer antes que acabe dezembro, foi você minha paixão mais bonita desse ano.  Cuidei-te em mim com tanto carinho que criastes raízes e te quis do jeito que viesse. E você veio desse seu jeito, tão complexo para entender. Sinais mistos, verdades mascaradas, afeto controlado e mesmo assim, eu sabia que sua pele também ardia diante de mim. Reservei-te tantos espaços que a cada ausência sua crescia um vazio que nem tinha razão, que nem tinha motivos. Mas fui te querendo mesmo assim, mesmo que me doesse, mesmo que me faltasse, mesmo que me partisse o coração. Por mais que mais te imaginasse do que te tivesse, lhe desejava o bem todas as manhãs, pedindo aos céus proteção e abrigo. Prezava pelo seu sorriso mesmo que não fosse comigo, era bom te ver todo menino risonho se embolando numa piada qualquer. Mesmo com todos os reveses, aqueles momentos compartilhando o nosso silencio fez-me bem. E se é paixão que me aquece, meu verão foi você.  

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Carta para o Papai Noel

Nunca acreditei em destino, roteiros de vida, martírios como ensinamentos e toda essa balela que nos pregam para nos acomodar, viver de espera. Guerreei em busca da minha vivencia ideal, travei batalhas e só me sobrou o cansaço. Sei lá qual o domínio o destino tem sobre nós, mas o reverencio, ele me parece incansável. Cansei de tentar me fazer entender, de ter que me explicar o tempo todo, distribuindo “porquês” das minhas vontades, dos meus sonhos. Nunca foi fácil, mas não sou de reclamar. Só tenho me sentido pequena diante do que planejei ser e isso me dói. Travo uma luta diária para exercitar o perdão a mim. Mas não me falta força. Não sou de fraquejar, sou de embates cara a cara, meus medos têm nomes e casas. Desculpe-me o pequeno desabafo, mas nem tenho direito o que pedir, só queria um pouquinho de atenção nessa véspera. Mas para não perder o costume, peço bênçãos para os meus e para mim um pouco mais de fé na vida, um pouco mais de fé em mim.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Choveu Vontades

Queria-te no silencio porque assim nos entenderemos bem. Eu sei, eu sinto. Tantas explicações não valeram  de nada para nós dois. Meias palavras, noites perdidas, mãos separadas, bocas afastadas... Quero fingir que não percebo seu olhar perdido nos meus trejeitos, me analisando com uma destreza que só você tem. Acomodo-me perfeitamente no seu abraço quentinho, como se fosse abrigo, como se fosse meu.  Te queria tanto hoje que me ardeu. 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Desamor

Era difícil entender todas as belezas que você enxergava em mim, não era compreensível, me conheço muito bem para me enganar com afirmativas vãs. Talvez fosse galanteio barato, seu jeito fácil de me fazer abrir as portas, as pernas, o coração.  Comovia-me seu jeito hábil de trazer aos meus dias sorrisos fáceis, se dedicando para que me sentisse acarinhada. Mas foi justamente um “eu te amo” que não consegui ouvir naquele momento. Não era justo comigo você me amar tão fácil e em tão pouco tempo. Eu queria abraçar sua dor e te fazer entender, mas você me afastou. E quase não pude suportar você me negando qualquer chance de explicação. Te ver despedaçando me partiu em duas e minhas palavras se confundiam com soluços. Procurei no seu olhar algo que sinalizasse que eu poderia avançar sem um confronto doloroso, mas só encontrei uma raiva gélida. Desde então, me dói todos os dias saber que sou dona de uma mágoa que te habita.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Sobre tentativas e esperas.

Talvez se trate de medo, um medo corrente. Uma insegurança arraigada nos meus trejeitos. Eu tento, juro. Quero ser invasiva a ponto de te desconcertar. Sou avida por informações de toda e qualquer natureza. Tenho desejo por te conhecer, por mais que não saiba qual sensação cada informação despertará. Prefiro saber detalhes minuciosos, mesmo que me doam, preciso saber. Não ficar as escuras. Não sei lidar com uma situação onde me privam o conhecimento. No mínimo, me desconcerta. Geralmente as pessoas se abrem facilmente para mim e naturalmente as vejo com clareza. Mas você nubla a minha visão e me deixa aturdida. Não é algo comum para mim e talvez, isso me instigue ou me embirre. Não sei me desfazer das pessoas tão facilmente, até porque não me apego a qualquer um. Criteriosa? Seletiva? Sim, a insegurança adicionou isso as minhas relações. Estou certa dos males, não me venha com analises criticas, não agora. Suas reações me confundem e por vezes, me afastam. E de repente já não sei mais como lidar com tudo isso. Não sou hábil em te desarmar. Na verdade, falta-me a segurança de me sentir querida. Uma constante sensação de que você pode partir sem sentir, sem se importar ou estranhar a minha falta nos seus dias. Às vezes você acrescenta uma frieza onde não deveria ter. Seu jeito, eu tento entender. Pode ser que tudo se desembole com o passar do tempo. Ou talvez, só me resta esperar pelo cansaço

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Propensão

São tantos mistérios que te envolvem que eu não consigo me conter, a ferocidade para despir-te é tamanha que chega ser cruel. Tenho esse lado traiçoeiro que quer devorar sem demoras o que me atrai. Esse lado afronta minha faceta calma e despretensiosa, apimenta e esquenta toda serenidade. Ao domar meus impulsos, instiguei-me. Uma atração não só tão física, mas astral. A lua negou-se a aparecer na noite em que tu era a caça, não queria ser testemunha de um crime tão carnal. E em meio a tantas bocas, seu sorrir era justamente o que eu queria para mim, fixei-me no brilho e na dimensão. Espreitava-te pelos cantos sem ao menos notar seu olhar. As horas passavam e a ansiedade era corrosiva. Não sairia de lá sem ter, sem me fazer residência. O acaso se envergonhou com notável covardia e agiu. Era o confronto entre dois quereres. Olhares paralisados, sorrisos congelados e intimidação. Rompeu-se o silencio. Despertaram-se urgências. Buscava-me com firmeza a cada evasiva. Envolvíamos em pretensões efêmeras. Não era só o sabor da carne que ansiávamos, mas no fim da noite éramos só dois predadores …

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Vácuo

Foi como se a noite paulatinamente se cansasse de mim e por saturação me implorasse para parar, aliviar o peso dela de carregar todas as minhas expectativas. Quando o sol se põe meu astral muda, meu sorriso brilha e o ar sereno parece diminuir todos os meus bolores. É como se toda noite eu apelasse para o acaso, o convidasse a me surpreender e amanhecesse insultando o sol por aquecer todas as minhas dores. Daí à tarde o ciclo recomeça e me jogo de volta num rio de hipóteses tão desleais comigo. Eu nunca fui de mentir, nem mesmo para mim, principalmente para mim. Eu sempre soube que por mais duro que pudesse ser mergulhar no meu âmago e me atormentar com as minhas realidades era o que, no fim, me salvaria de um deslize qualquer. Porém naquela noite me indispus com a sorte, não poderia mais confiar nela. Meu desejo era singular, cruelmente especifico. Ansiava novamente pelo seu cheiro me despertando de uma distração qualquer, seu jeito tosco de forçar o meu riso só para me ver apertar os olhos e seu abraço firme me roubando arrepios. E queria tão mais, muito mais, com uma urgência que me doía. Mas são nossos subentendidos que nos afastam, meias verdades tão covardes e frases tão bem forjadas para abrandar o fogo que arde. Só não vou mais me enlaçar em ilusões, se as nossas defesas são nossos maiores apreços e são as que mais penamos em deixar, então nos deixemos passar. Até um dia, talvez. Mas eu já não vou mais esperar.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Remate

Não fala nada, só me abraça e me deixa por mais um instante no calor do seu afago. O nosso prazo está esgotando, acabou, antecipei o fim. Ainda que não houvesse motivos, eu quis partir. Quero ir embora antes que o drama manche minhas boas lembranças. Quero recordá-lo assim, com esse sorriso largo e os abraços apertados. Em que parte de mim eu escondo o que faltou pra nós dois? Não quero mais um fantasma sussurrando em meus ouvidos o quanto eu pequei, o quanto eu não soube amar. Permita que a saudade me desperte o arrependimento, mas me deixa fugir. Aceito todo julgamento e tomo pra mim toda a culpa, não por bondade, mas porque sou covarde. Lido melhor com a solitude do que com a falta de domínio. Por mais que eu repita que nunca quis te ferir e não imaginei partir tão cedo, você ri e se arma com ironias. Se sente tão certo ao dizer que eu nunca te quis, não quis investir e queria o mundo e viver só pra mim. Nunca tentei mudar teu modo de pensar, não me esforcei pra dizer o quanto valia cada reencontro. Mas na verdade o que te escondo foram minhas tentativas falhas de lhe tornar naquilo que me faltava. Por favor, não transforme tudo em dor! Despreze-me, odeie-me, mas não me obrigue a lhe negar amor. Não insiste, não dá, meu coração não soube te amar.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Dissoluto*

Havia o teu corpo completamente nu estendido no tapete, no fundo da sala tocava Lou Reed e o cheiro de incenso se misturava ao nosso suor.  Sei que devíamos ter respeitado o tempo que precisávamos antes de adentrarmos nosso lado selvagem. Mas ao invés disso corremos em disparada, da boca ao órgão, do sexo a religião. Precisava acreditar em algo naquele momento, algo além da sua mão pelo meu corpo e barbitúricos. Queria estar certa que havia sentimento ali, mas não havia. Eu e você, juntos somos tão carnais que por mais que buscasse maneiras de sensibilizar nossa relação não achava, só havia madrugadas e suspiros. E por mais que ter seu corpo me hipnotizasse, eu quis mais, necessitava de algo a mais. Queria mais do que orgasmos espalhados pela casa. Quis ser sua de alma exposta e peito aberto, mas não soube te ser assim. Agora é uma pena ter a certeza que pertenço ao mundo dos que não te pertencem, porque era bonito sentar na beira da cama, te ver vir andando e te ouvir me chamar de "meu bem". Sinto saudades da sua estadia e da sua língua. Essa era minha parte procurando um espaço em você e esse era o seu vício invadindo a mim.


*Dissoluto foi escrito em parceiria com o Percy Carpenter

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Pra te Chamar de Meu

Cultivo-te em mim para ser leve, não vejo outra forma, não te quero de outra forma. Somos calejados demais para investirmos em coisas vãs ou tentarmos edificar sem fundação. O tempo fez de nós tantas coisas e nos pesa tantas outras que, por vezes, fazem de nós reféns dos receios. Mas te vejo tão grande daqui que qualquer irritação tem validade de instantes. Dedico-te raiva e lhe juro não mais querer, até que retornas me fazendo sorrir até apertar os olhos. Você me ganha. Sem dedicação, sem empenho ou esforço: você me ganha. E eu nado numa vibe toda errada. Então, me desfaço aos poucos do que me priva de ser entregue. Lhe dedico minha mais gentil compreensão, zelo seus passos, lhe guardo com carinho e te reservo meu querer mais sutil. Não te cobro e nem poderia. Te quero livre, mas que venhas meu. 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Reincidência Tardia

Creio que tenha voltado sem medir o quanto o tempo fez de nós apenas lembranças. Parece que retornou tentando reaver algo que já não nos cabe mais. Não depois que os meses de ausência completaram um ano e eu aprendi com a distância a não mais querer um romance com você.  Permaneci disponível para que entendesse que nossa relação transcendia a paixão e mantive meus braços abertos te acolhendo como amiga num desabafo qualquer. Mas não posso agora lidar com toda essa insistência de fazer de nós o que deixamos de ser. E deixamos de ser tão mais. Por não gostar de retrocessos te nego qualquer tentativa de reconquista. Antes que reclame do meu jeito evasivo, aviso que não se trata de fuga ou medo, é falta de querer, não te quero mais meu. Quero-te bem e te reservo o meu carinho, mas paixão... essa só conjugo num passado que você abandonou.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Posse

[...] foi quando você apareceu no meu horizonte, surgiu como se sentisse o cheiro da minha vulnerabilidade. Você me conhece em detalhes e essa é a sua maior vantagem contra as minhas negações. Mas naquela noite não iria negar, tive certeza disso quando um ar quente se alojou na minha nuca. Não teve jeito, de repente me vi nos seus braços “só mais uma vez”. Em contrapartida você sorri e diz que eu sempre volto e é o que lhe consola. Me cativa a sua disposição em me receber sem questionar, sem julgar os meus motivos ou as minhas necessidades. E retornei algumas vezes por uma vontade doentia de me sentir desejada, outras só pelas exigências do corpo. Me atormenta tamanha crueldade de chegar,  te revirar do avesso e sair sem me despedir. Mas você nunca se importou, a cada chegada me aninha nos braços como se fosse à primeira, como se eu não fosse partir por mais um longo tempo. Você sempre achou que nunca me teve, mas te pertenci tantas vezes que nem sei dizer. Tens minha entrega sem espera. Queria ser livre no mundo como sou nos seus braços. Queria lhe amar com o coração como o amo com a carne.