Eu tenho medo da felicidade. O
rosa me enoja, por isso não fantasio o meu mundo com suas nuances. Tudo que é
ilusório nos desprende da verdade da vida. Felicidade extrema é um tom que não combina
com a minha pele. Essa alegria inabalável é comodidade, é se conformar com o
que esta ao seu alcance, é não querer mais do que lhe é ofertado. Não prego a
tristeza – longe de mim toda e qualquer negatividade – mas acuso a felicidade
de nos cegar. Ninguém gosta de quem é intensamente feliz, escrevo e rescrevo em
letras garrafais, NINGUÉM! Também não estou dizendo que não devemos sentir a
felicidade, mas não devemos ser feitos apenas dela. Porque há momentos de
indagação na nossa vida, há confrontos desgastantes e há vezes que guerreamos
com quem mais amamos em busca da nossa realização. E é em busca de uma felicidade suprema que
enfrentamos os contratempos da nossa caminhada. Enquanto caminho, debocho da
vida, porque se não encaramos os reveses como piada, o tempo suga a nossa
sanidade e salga o coração com o amargo do desprazer. Quando desejamos
conquistar algo, temos medo do fracasso; quando amamos, temos medo do abandono
e quando voamos, temos medo da queda. O medo de perder o que se tem já é a
garantia de que não se é inteiramente feliz. E Bob Marley que me desculpe pela
afronta, mas “o que é realmente nosso” se vai e se acaba, há de ter cuidado e
há de ter amor. Positivismo imoderado adocica, mas não nos firma. Tenho medo é
de que em nome da felicidade, eu me distancie dos meus sonhos, fuja da minha
verdade e viva conforme os padrões da sociedade, porque feliz inteiramente é
aquele que não tem que lutar para se afirmar.
sexta-feira, 19 de julho de 2013
quinta-feira, 11 de julho de 2013
Fantasia de não ser
Quando o vi pela primeira vez
pensei euforicamente que ele seria a minha doce oportunidade de me pintar
diferente aos olhos de alguém. Para ele eu não seria tão bruta, tão chula ou
indelicada. Com ele seria doce, quase imaculada, malícia teria no quarto e só,
para deixa-lo abobado e refém dos meus cuidados, e ele se perguntaria em qual
calcinha profetizei a simpatia de coar o café. Queria que me visse com a
alegria delineando os olhos, sorrisos tirando a atenção do batom e mãos suaves
sem destino. Com o tempo, me perdi do proposito, me fartei de me ser diante
dele, de ser assim tão... nem sei. Mas pensei ter sido boa atriz, quase investi
na profissão, até aquele olhar escancarado me entregar a sua própria mentira, a
de fingir acreditar para me aproximar e me manter ali, como bem quis. Mal foi
pra ele, porque percebi que me queria assim e talvez nem ele tenha percebido a
profundidade de querer, mas ele não queria que eu visse e obedeci a seus
instintos, me abstive do saber. Deixa esse querer aí, porque quando livre, ele
chega a mim.
*Texto inspirado no conto “Além
do Ponto” do livro “Morangos Mofados” do Caio Fernando Abreu.
terça-feira, 9 de julho de 2013
Saber a pouco
Queria que desaprendêssemos de um
tanto de malicias. Merecíamos certa inocência juvenil, para que fossemos
ingênuos em tentar nos negar e eufóricos na entrega. Mas não há como negar o
saber quando se aprende com a dor. Escondo os meus receios da maneira que
posso, descubro os seus num descuido ótico. E sorrio para cada defeito seu que
chegam as margens, rezando para que percebas que essa perfeição fingida é o que
me inibe e me limita. Sinto uma vontade louca de te beijar sempre que vejo seus
deslizes escorrendo pelos lábios, para que sinta no meu salivar a excitação
pelo que é livre. Já nem sei mais se nos cabe tentar, mas carrego no peito a
grandeza do nosso convívio. Mantenho
saudável a nossa perenidade, para te pintar na memoria a luz de outra estação,
nos sabores de outras cidades e na descoberta de uma nova canção.
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