Nós nunca nos despedimos. Não
tivemos o último beijo, o sexo de despedida e nenhuma recaída. Decretei o fim,
te abandonei em mim e desejei não ter sido tão feliz. Era mais fácil rasgar as
fotos e fingir a não existência de promessas e juras, do que admitir para mim o
vazio. Tanto tempo tentando te odiar me serviu para reavivar cada pedacinho de
você que ficaram guardados na memoria.
Mas, há algum tempo, ando em paz com as lembranças de nós dois. Porém,
ainda me atormenta o olhar de encantamento das pessoas quando falam com
propriedade do nosso passado, como se o amor fosse tão obvio e transparente,
que a nossa eternidade foi decretada por uma torcida. Eu teria chorado a sua
ausência todas as manhãs, se a falta que eu sentia de mim não me doesse mais.
Vejo-te nesse novo mundo e sinto o orgulho transbordar em sorrisos, porque te
desejei tanto o bem, que parece que cada felicidade sua é uma prece minha que
foi atendida. Às vezes, me pego falando sozinha, te contando da minha vida, das
dores e das feridas. E quando chega a noite, você vem em sonho abraçar minh
‘alma, me contemplando com uma serenidade que eu jamais senti igual. Não te procuro, não por medo de rejeição, mas
pelo pavor da hipótese de você não mais existir nesse corpo. Encontro-te no
passado porque lá tenho a fiel certeza que ainda te verei impecavelmente
vestido com seu caráter e suas grandezas. Não que o amor tenha perpetuado, mas
o revivo a cada desleixo da carência. Acato essa distancia, porque ela é o
abismo que separa o que fomos do que deixamos de ser. E eu fico do lado de cá,
relembrando nossa historia para mantê-la viva, porque isso reviva a minha fé de
que há em mim muito para ser amado. Foi intencional usar o amor sem restrições
que me dedicou como esperanças e parece até heresia, perdoe-me, mas ando me
agarrando a qualquer crença que me dê tranquilidade. Tranquiliza-te também,
minha procura não é por substituição, nossa historia já teve seu fim. Contudo,
não há caminhos que nos faça chegar a um adeus, você me diz isso sempre que cruzamos
o olhar.
quarta-feira, 22 de maio de 2013
quarta-feira, 1 de maio de 2013
Alvuras
Nunca quis lhe privar dos seus
julgamentos sobre mim, mesmo que errôneos, deixei que se fartasse deles.
Aceitei de bom grado todas as acusações de superficialidades, elas realmente
existem e são o que me mantem sã. Mas lamentei por serem meus defeitos que lhe
saltam aos olhos e por sempre estar de prontidão para aponta-los e encará-los
como diversão. Relevo as suas definições, porque me calei diante de muitos
apontamentos. Não sou de intensidades e profundidades repentinas, por isso
sempre apreciei nossa morosidade. Tive todo o cuidado, um respeito quase devoto
pelos seus limites e achava bonito quando esbarrava em algum e você sorria como
se dissesse “bem vinda”.
Talvez, por te julgar tão
perspicaz, segui disfarçando as obviedades com sorrisos, com um bom humor que
lhe ofereço antes mesmo do café da manhã, com uma atenção dedicada ou com as
certezas de um olhar fixado. Usei de pequenezas para que meu carinho falasse
por mim. Acho que entendimentos encontrados no silêncio são lindos e marcantes
pela sua brevidade. Dispus-me a ser inteira e sorria a cada intromissão sua.
Cultivei-te em mim para ser bonito, florescer colorido e embelezar as
memorias.
Queria usar de claridades como
armas, mas me pareceu apelação, afobação juvenil ou inapropriado para o nosso
lance. Apesar de decretar o fim trezentas vezes no mês, permaneço a qualquer
sinal de carinho, atenção ou cuidado. Acho que ficou tudo tão perdido e sem
sentido, que permanecemos para ver se encontramos algum motivo para o que sentimos. Talvez insista por ver em ti um mar de coisas a desvendar. E talvez desista, porque
onde há mar, há tormenta.
Assinar:
Postagens (Atom)