quarta-feira, 28 de março de 2012

Entendimento

Com o tempo endureci, não só pelos maus tratos da vida, mas também por conta própria. Nunca soube lidar com meus sentimentos com muita destreza. Não por não saber ser afetiva ou não gostar de carinhos, só não sei manuseá-los. Mas tenho tentado administrar toda essa parte de mim que não se descola do medo. Principalmente por andar sufocada por tudo que aprisiono, não as mágoas, mas as carícias. Todos os toques que repito incansavelmente na mente para que se tornem sutis e não aparentem fogosidade repentina. Nada disso quer dizer que seja impenetrável, na verdade, trago tudo para o coração numa facilidade divina, e isso me faz ponderar as minhas demonstrações de querer. Talvez minhas palavras soem como um desabafo antigo agarrado na garganta, mas não é, é algo novo comichando que me deu vontade mudar, polir minha brutalidade e domar meus receios. Quero dizer que preciso estar apta a tentar mesmo com todos os arranhões que possam causar. Com isso, vou catando as partes, lendo os sinais, decifrando cada sorriso, cada ciúme incumbido ou cada motivo escondido, para entender o quanto de mim já faz morada e poder te avançar com segurança. O que vejo em ti nem falo, nem ouso, mas quero. Acho que te gosto, mas não sei te ter.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Alojar-me

De repente as palavras me faltaram, se rebelaram contra o meu domínio e o silencio imperou. Mas o silencio não me é constrangedor, é um delator das minhas vontades mais intimas. O silencio me vem pra lembrar que eu ainda tenho o toque, que meus olhos são refletores e que nem sempre as palavras bastam. Você me calou. E eu te queria aqui, ao alcance dos meus abraços, pra te sufocar num aperto e pra que meu corpo escreva a música que eu não soube compor. Ainda sim, tenho esse medo crônico de atrapalhar a fluidez, apressar as coisas ou impor um ritmo desleal as nossas naturalidades. Mas só quero que saibas que eu não sou tão espaçosa, entendo suas individualidades e respeito seus princípios. Só quero um espaço em você pra me aconchegar. Com um clima leve e envolvente, aquele misto de romantismo e companheirismo. Já não me importo com o modo que vens ou o quão efêmeros podemos ser, só quero que chegues. Que me venhas em doses fartas, mas que não me satisfaça. Que me faça te querer ainda mais!

quarta-feira, 14 de março de 2012

Confissão

Não é que eu queira desaprender das lições passadas, nem estou pensando em esquecer as magoas repletas de vivacidade ou me abster das vivências que me contornam. É que me idealizei num dia órfã dos meus pesares e no ápice do surreal a fluidez tanto desejada me conduzia. Desejei um dia de rejeição aos temores que me brecam inconscientemente, desacorrentar-me de todos os vieses que me fazem retroagir e enfim, te avançar em desaviso. Render-me às vontades e respirar liberdade pra sentir. Deixar que a paixão escorra pelos poros, mesmo que precoce. Imaginar massageou as tensões e então questionei todo esse meu apego a evasivas e as colecionáveis defesas. Aquilo que eu alimentava numa dieta rígida e balanceada pelos receios, engordara sem eu perceber. Não só cresceu, mas precisava florir. Foi quando percebi o quanto de mim te queria fazendo morada.