quarta-feira, 25 de julho de 2012

Sai de si, vem curar seu mal

Revirei-me a procura de justificativas que ponderassem todo esse meu interesse súbito por você. Rondei-me por dias, espiei-me junto a sua presença e nada. Não consigo explicar e o inexplicável tem um gosto agridoce, que te excita e te enfurece.  Ando as margens do limite da sua permissividade, com o pé na linha, não sei se me convido ou se me deixo convidar. Careço é de te conhecer, te desvendar, de saber com que pedras foram construídas suas barreiras e como escalar. Quero passar o dedo por suas cicatrizes, pele morta não faz doer, só marca e amarga. Minha curiosidade se encontra no que se negas a narrar, seus antigos abrigos, sua quietude almejada e onde escondes a euforia. Mas com destreza me podo e controlo o fluxo das tentativas, que não são tão vans. Vivo nesse embate, não sei se tento te penetrar ou recuo inofensiva.  Confesso-lhe que já não me importam as efemeridades.  Um dia, quatro meses, um ano... não importa! O gostoso é quando marca, absorve o que foi bom e se conserva na lembrança. Cansei dessa minha poesia de frases bem montadas, quero a poesia que não se descreve porque só se faz presente no olhar, no salivar e no arrepio quente. É interesse beirando a paixão. E meu caro, o mal de tentar sufocar a paixão é que se ela não perde o ar, ela o busca tão forte que rouba o seu. Mas não há mal, devagarinho eu vou descobrindo como me esquivar das suas defesas e como tudo tem seu tempo eu sei que vai saber a hora certa de abrir a porta e me deixar entrar.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Encantamento

Admirar alguém é uma das coisas mais serenas da vida, belo em toda sua essência.  E mesmo com toda sua grandeza não lhe faz inquebrável, é frágil como a confiança, precioso como cristal. É o que ameniza a dimensão dos defeitos e nos faz até saudá-los.  É o saborear cada vivência da verdade do outro. Enxergar o mundo com outros olhos, perceber toda uma variedade de coisas ganharem outras formas, descobrir beleza onde só encontrávamos estranheza. Apreciar em demasia cada sutileza: a suavidade de um toque na mão, segundos de um abraço ou a pertinência do cheiro após a partida. Só quero que saibas que me falta o jeito, mas me sobra admiração e admiração é o que me enfeitiça.  

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Cartada


Falhas à mesa, nunca pretendi te iludir. Eu sou transparente demais para tentar fingir características que não possuo. Sou de verdades nuas e cruas, as que por muitas vezes me atormentam. Não ser tão intima, não conhecer da sua rotina, das cicatrizes da infância, dos amores bandidos ou da sua vida vadia é o que me priva de decretar paixão. Já não nos cabe mais falar dos receios ou medos insistentes, já faz tempo que isso é o que prevalece entre nós. Talvez me precipitei te querendo na minha casa, acariciando meus bichos, conhecendo meus abrigos. Não sei até quando vou me manter na tentativa, não sou de insistências.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Desabrigado

Era tudo azul naquela manhã, o céu sem nuvens, o mar de poucas ondas e seus olhos que ficaram ainda mais translúcidos com a clareza do dia e me impediram de qualquer investida ríspida. Foi então que desejei esquecer algumas verdades para te tentar com mais leveza.  A brisa deixava no meu rosto um rubor menor do que seus elogios imoderados ou as piadas maliciosas. Por instantes as minhas recusas a suas investidas pareciam não fazer sentido - você estava ali - liberto de medos e receios, todo cheio de atitude e um querer sem delongas. Mas meu pensamento me traiu e eu vaguei em imaginações, transferi suas atitudes tão claras e certas para outro alguém, e me encontrei sendo feliz em outro contexto. Não é justo, eu sei. Se fossem por ordens minhas meus quereres seriam seus. E então, eu te nego mais uma vez, não por maldade, não sem dor. Fujo, porque não sei ser sua morada.