Havia o teu corpo completamente
nu estendido no tapete, no fundo da sala tocava Lou Reed e o cheiro de incenso
se misturava ao nosso suor. Sei que
devíamos ter respeitado o tempo que precisávamos antes de adentrarmos nosso
lado selvagem. Mas ao invés disso corremos em disparada, da boca ao órgão, do
sexo a religião. Precisava acreditar em algo naquele momento, algo além da sua
mão pelo meu corpo e barbitúricos. Queria estar certa que havia sentimento ali,
mas não havia. Eu e você, juntos somos tão carnais que por mais que buscasse
maneiras de sensibilizar nossa relação não achava, só havia madrugadas e
suspiros. E por mais que ter seu corpo me hipnotizasse, eu quis mais,
necessitava de algo a mais. Queria mais do que orgasmos espalhados pela casa. Quis
ser sua de alma exposta e peito aberto, mas não soube te ser assim. Agora é uma
pena ter a certeza que pertenço ao mundo dos que não te pertencem, porque era
bonito sentar na beira da cama, te ver vir andando e te ouvir me chamar de
"meu bem". Sinto saudades da sua estadia e da sua língua. Essa era
minha parte procurando um espaço em você e esse era o seu vício invadindo a mim.
*Dissoluto foi escrito em parceiria com o Percy Carpenter