quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Favos Contados


Um timbre bonito, sorriso vadio, olhos astutos e mãos evasivas, você não se combina. Nunca vai ser coerente, menina. Faz birra e se amarra num bico, fala firme e pede abrigo, projeta distancias e protesta por carinho, não faz sentido. Mas vim te falar das saudades e de um tempo em que estar em paz era estar contigo. Das gravações perdidas da sua voz: dois poemas, seu trecho preferido do meu livro de cabeceira, algo sobre sua TCC e musicas velhas da MPB. Do livro de receitas manchado com seu desmazelo. Das suas teorias sobre a alma e o sentir. Dos seus sentidos alvoroçados e da sua calma ao dormir. 

Hoje te chamei de nostalgia, te revivi durante o dia. Recordei-me dos meus planos e da sua fuga. Dos meus ciúmes e da sua culpa. Da minha pólo rosa, da chuva e do Titãs. Da sua ponta de pé de bailarina tentando me roubar um beijo. Do seu desassossego na novela e da indecência na hora do jogo. Do seu discurso de “vou partir antes de te magoar”. Da dor e do entendimento. Da procura e da minha perdição. Da sua língua em outras bocas e um sexo nunca mais completo. Do tempo passando e a memoria fingindo te esquecer. Da vida escrevendo outros roteiros, mas sem pontuar o nosso final.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Tarja Preta

O desespero me roubou de mim uma vez, por tanto tempo que nem me lembro de ter sido jovem sem tal peso. Nada cega e emudece mais do que o desespero. Descrente que era de tudo que vingava da depressão, neguei qualquer fragilidade para recusar a toda ajuda que encontrava a disposição.  Sempre detestei o incontrolável em mim e muito mais a exposição de uma fraqueza. Por isso lido tão mal com os sentimentos, que indomáveis por natureza, me desconcertam diante de repressões. Falo muito e escrevo o que vejo e sinto, mas ainda não consegui narrar aquele tempo, que hora são borrões de enfermaria hora são apagões em meio à multidão. Depois me recordo da sessão de desenhos com a psicóloga e a rotina de remédios. Ainda não tinha costas largas para carregar tamanho fardo. Menina que era mal sabia que o amor poderia me curar, mesmo que fosse a ausência dele. Nem me lembro de como consegui salvar Minh ‘alma de tamanha dor. Mas eu me criei para superar meus limites, afrontar o medo e jamais desistir. Disse adeus à terapia, me livrei das drogas que me dopavam, tive fé em mim. Fui pra vida e aprendi que felicidade é feita de momentos. Fui pra vida e salivei a cada descoberta. Agora me embriago de tantas coisas, mas continuo sóbria de mim.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Há de vir

Nunca te tratei como uma distração da solidão ou satisfação de uma carência qualquer.  Não sou assim, a solidão não me atormenta e a carência não me desconcerta. O que me incomoda é estar vazia de você, carecer dos seus cuidados e esperar que seu abrigo seja minha proteção. Hoje a sua ausência pesou e te desejei no canto da cama oferecendo seu colo como repouso, medicando as minhas dores com carinho e sussurrando ao meu ouvido alguma explicação relevante. Mas minha atenção seria sua porque tudo em você me interessa, porque tudo em você transforma algo em mim. Imaginei-me no silêncio decorando seus traços, tentando descobrir como o tempo marcou cada risco do seu rosto. Me acostumaria com as suas manias, traria inverno em pleno verão só pra te aquietar, comeria os chocolates que despreza e até decoraria a ordem da sua coleção de discos. Ah Nego, sei que sabe das minhas birras, sei o quanto seus receios lhe calam e sei que achas que me conhece da pele ao avesso. Mas o que não sabes é que pensar em ti no futuro do presente me faz sorrir.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O Fim das Reticências

Eram meus olhos que me entregavam ao falar de você, por mais serena que eu tentasse parecer, eles insistiam em brilhar e me constranger. Meus lábios tremiam e reprimiam as lagrimas que por tantas vezes desejaram ser rios. Meu corpo todo se alarmava ao ouvir seu nome. Era uma predominância do amor dominado pela dor. E quanta dor, era o que sobrou, viver o luto do fim. Mas o que me corroía eram as esperanças vans, a ficção de um retorno histórico e a certeza do quanto o sentimento era recíproco.  Hoje somos o avesso do que fomos e não somos o que mais queríamos ser. Quantas vidas não dariam suas vidas pelo amor? Eu não! Eu me escolhi e fui feliz. Amor não é abandonar-se. Amor não pode ser sinônimo de dor, de penar. Amor tem que ser leve pra flutuar, pra fluir e encorajar. Amor divide pra somar! Uma década, foi o tempo que levei pra te viver, te consumir em mim até acabar. Despeço-me sorrindo, um súbito alivio de quem viveu de amor e amou por inteiro. Peço-lhe perdão em pensamento por abandonar todas nossas promessas de amor eterno.  Desculpa por não cumprir o que prometi, mas te amar pela vida toda e te esperar sorrir novamente seriam enganos dolorosos demais. E por fim o que te desejo é o não me amar, é me deixar ser livre e se libertar de todo nosso romance tristemente épico. Mas esquecer-te é humanamente impossível, os traços do que vivemos é muito do que me moldou. Hoje foi mais um dia que acordei não querendo você e isso soa tão permanente. Sinto-me liberta, renovada e ansiando pelo novo. Deus me livre de amar só uma vez!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Propriamente pra você

É como se minha inspiração tivesse nome e meus poemas tivessem dono. É como se eu sentisse em cada verso teu um toque em meu corpo. É como se sua poesia fosse um pedido subentendido de amor pra mim. É como se você me desejasse fortemente e me possuísse em cada melodia. É como se me apreciasse por inteira e quisesse viver de mim. É como se você me iludisse e tudo não passasse de belas rimas.