Um timbre bonito, sorriso vadio,
olhos astutos e mãos evasivas, você não se combina. Nunca vai ser coerente,
menina. Faz birra e se amarra num bico, fala firme e pede abrigo, projeta
distancias e protesta por carinho, não faz sentido. Mas vim te falar das
saudades e de um tempo em que estar em paz era estar contigo. Das gravações
perdidas da sua voz: dois poemas, seu trecho preferido do meu livro de
cabeceira, algo sobre sua TCC e musicas velhas da MPB. Do livro de receitas
manchado com seu desmazelo. Das suas teorias sobre a alma e o sentir. Dos seus
sentidos alvoroçados e da sua calma ao dormir.
Hoje te chamei de nostalgia, te
revivi durante o dia. Recordei-me dos meus planos e da sua fuga. Dos meus
ciúmes e da sua culpa. Da minha pólo rosa, da chuva e do Titãs. Da sua ponta de
pé de bailarina tentando me roubar um beijo. Do seu desassossego na novela e da
indecência na hora do jogo. Do seu discurso de “vou partir antes de te magoar”.
Da dor e do entendimento. Da procura e da minha perdição. Da sua língua em
outras bocas e um sexo nunca mais completo. Do tempo passando e a memoria
fingindo te esquecer. Da vida escrevendo outros roteiros, mas sem pontuar o
nosso final.