quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Carta


Nunca soube te recusar.  Nunca soube dizer não para suas insistências. Quis-te desde o primeiro “bom dia”. [...] Você foi meu abrigo nessa cidade de tantas esquinas bandidas. Com toda a paciência do mundo me mostrava a mim, por vezes resgatava pedacinhos de mim que estavam naufragando. Recordo-me de você como se as lembranças tivessem anos de distancia, mas ontem mesmo você estava revirando a minha dispensa atrás de tempero para nosso costumeiro jantar de terça feira. [...] Lembro-me de você tentando me convencer a desabafar, dizendo que tudo que eu não conseguisse dizer era para eu te escrever. Mas você não caberia em qualquer um dos meus clichês  [...] Eu estou voltando para minha cidade, não sem dor. Desculpa não ter te contado antes. Desculpa por não ter preparado seu coração. Não quis te contar para você não fazer desses últimos dois meses o nosso nunca mais. Nunca é tempo demais. Além do mais, eu não saberia ir embora de vez. Não posso dizer adeus, não para você.


Ps.: Ainda nem fui embora, mas já lhe dedico minhas mais chorosas saudades. 


Lhe guardo com muito carinho,
Ana.

Um comentário:

  1. "O mundo é pequeno sem ter com quem dividir as coisas banais" é um verso do Ludov que nunca vou esquecer. E é isso, felizes os que tem um mundo grande.

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