Quando o vi pela primeira vez
pensei euforicamente que ele seria a minha doce oportunidade de me pintar
diferente aos olhos de alguém. Para ele eu não seria tão bruta, tão chula ou
indelicada. Com ele seria doce, quase imaculada, malícia teria no quarto e só,
para deixa-lo abobado e refém dos meus cuidados, e ele se perguntaria em qual
calcinha profetizei a simpatia de coar o café. Queria que me visse com a
alegria delineando os olhos, sorrisos tirando a atenção do batom e mãos suaves
sem destino. Com o tempo, me perdi do proposito, me fartei de me ser diante
dele, de ser assim tão... nem sei. Mas pensei ter sido boa atriz, quase investi
na profissão, até aquele olhar escancarado me entregar a sua própria mentira, a
de fingir acreditar para me aproximar e me manter ali, como bem quis. Mal foi
pra ele, porque percebi que me queria assim e talvez nem ele tenha percebido a
profundidade de querer, mas ele não queria que eu visse e obedeci a seus
instintos, me abstive do saber. Deixa esse querer aí, porque quando livre, ele
chega a mim.
*Texto inspirado no conto “Além
do Ponto” do livro “Morangos Mofados” do Caio Fernando Abreu.
Quereres são quase que maiores que nós. É tipo filho de mãe sem autoridade, quando a gente vê, tá dando na nossa cara e roubando nossas coisas pra comprar drogas. haha
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